O Destination Wedding movimenta uma série de negócios locais, de turismo e eventos
Não é à toa o crescimento de 22% no número de casamentos na Bahia durante os últimos oito anos, segundo dados da Associação de Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado Bahia (Arpen-BA). Os casais estão se casando mais no estado, mas não são só os baianos. A variedade de resorts, o extenso litoral e o incontestável potencial turístico têm atraído noivos de outras regiões do país que querem dizer o “sim” em um altar por aqui. É o chamado Destination Wedding ou, no bom português, casamento no destino, modalidade que movimenta uma série de negócios locais, mesclando os segmentos de turismo e eventos.
Para o analista técnico do Sebrae Leonardo Viana, a modalidade vem em ascensão no estado e tem impulsionado a economia local, aumentando a demanda de hospedagem, alimentação e transporte. Mas não são só esses os segmentos envolvidos. Segundo o especialista, a maioria dos convidados acaba aproveitando a viagem para conhecer o local, o que movimenta uma série de outros negócios do turismo, como lojas de artesanato, guias e passeios. Já a cerimônia em si traz impactos para serviços totalmente diferentes.
“A necessidade de organização e execução de casamentos em locais diferentes do habitual demanda uma maior contratação de profissionais e fornecedores locais, como celebrantes, assessorias, fotógrafos, decoradores, músicos, entre outros. Isso impulsiona a economia local e gera oportunidades de trabalho para diversos setores relacionados aos eventos”, explica.
A assessora de eventos Lidiane Peralva (@lidianeperalvaassessoria) é especialista nessa modalidade. Hoje, 70% dos clientes dela são noivos de outros estados que querem casar na Bahia. Muitos deles, sequer conhecem o local onde será a cerimônia. O último casamento que ela realizou foi para um casal do Paraná e 100 convidados que ficaram, em média, quatro dias em um resort no Litoral Norte. Foi Lidiane que planejou a programação do evento, reuniu os possíveis fornecedores e apresentou ao casal.
Em média, são cerca de 20 empresas fornecedoras envolvidas na programação, cada uma com cinco profissionais. Para Lidiane, a grande diferença deste formato é que a experiência do casamento tem uma programação que dura no mínimo três dias. Além da cerimônia, pode haver um check-in privativo, festa na piscina, um luau no hotel, jantar de boas-vindas, passeio de barco e ainda atividades para conhecer a região. Isso tudo significa mais negócios envolvidos.
“Se você casa na sua cidade, você já conhece alguns profissionais, pode visitá-los, você tem amigos que indicam. Quando você casa fora, você não conhece esses fornecedores, muitas vezes não conhece nem o hotel ou lugar onde vai ser realizado. Você precisa de alguém em quem confiar, alguém que mostra a cultura do local e apresente fornecedores para que você viva essa experiência na Bahia. Minha função é essa”, diz Lidiane.
Esse relacionamento entre fornecedores e profissionais é o que movimenta a modalidade e deve ser visto como um aliado para quem atua nela. O especialista do Sebrae destaca que, além de aumentar as chances de ser recomendado para potenciais clientes, estar em contato com colegas do segmento acaba também abrindo possibilidades de estabelecer parcerias, possíveis pacotes combinados ou descontos especiais. “Isso pode atrair mais negócios e criar oportunidades de colaboração mútua”, pontua.
Matheus Augustus (@matheustur_) é um dos profissionais que Lidiane costuma indicar. Ele começou fazendo o transporte de turistas e agora se divide também com o traslado de noivos e convidados que vêm de fora do estado. Ele leva os grupos para conhecer praias do Litoral Norte, para ir ao Centro de Salvador, para sair e chegar ao aeroporto e qualquer outro passeio que surgir. Com o último casamento que participou, ele acompanhou uma programação de três dias para 100 convidados e conseguiu um lucro de R$ 2.500.
Ao todo, são 12 motoristas na empresa de Matheus. De acordo com ele, os meses entre setembro e novembro costumam ser os mais buscados entre os noivos “Quando começa a baixa temporada do turismo, vem a época dos casamentos. Conseguimos atender aos dois e um vai puxando o outro, porque os clientes vão indicando”, conta o empreendedor.
A sazonalidade costuma ser um desafio tanto para quem trabalha com turismo quanto para quem é do ramo de casamento. O analista técnico do Sebrae acredita que a saída para enfrentar essa dificuldade é fazer como Matheus e tentar diversificar a oferta e buscar opções em outros tipos de eventos ou serviços próximos. Viana não tem dúvidas de que o Destination Wedding pode ser analisado como uma possível oportunidade para quem atua nesses dois segmentos
“Uma maneira de aproveitar é adaptando os pacotes e serviços de casamentos para atender às necessidades do público que procura por cerimônias mais intimistas e personalizadas. Isso pode incluir a oferta de locais exclusivos e isolados, menos convencionais. Outra estratégia é buscar parcerias com empresas e profissionais do setor de turismo, como hotéis, pousadas, agências de viagens e fornecedores de serviços relacionados a casamentos, para oferecer pacotes e descontos”, orienta.
A Kemp Wedding é uma agência de viagens especializada em Destination Wedding. Originalmente ela era uma empresa convencional do setor de turismo, mas acabou abrindo um setor específico para destino de casamento e lua de mel. Thiago de Paula, diretor da agência, conta que só para este ano foram agendados 60 viagens para casamento na Bahia. E entre as estratégias da empresa está justamente parcerias com fornecedores. A agência oferece pacotes pré-moldados para os noivos. O que tem mais saída inclui a cerimônia na praia com decoração, celebrante, sonorização e um jantar privativo para 50 convidados. O valor fica em torno de R$ 27 mil e, dependendo da quantidade de hóspedes, o casal ganha a hospedagem de graça.
Praias baianas
De acordo com o diretor da agência, essa modalidade vem se fortalecendo nos últimos cinco anos e as praias baianas são o destaque no mercado nacional. Os locais mais procurados, segundo de Paula, ficam no Litoral Norte, como as praias de Guarajuba, Imbassaí e Praia do Forte. No sul do estado há também a busca por locais como Trancoso e Maraú.
“O Litoral Norte ainda é o mais buscado porque tem muitos grandes resorts. A Bahia tem os destinos mais procurados para essa modalidade principalmente por conta dessa estrutura que os grandes resorts oferecem perto da praia. Há também a questão musical e a receptividade do povo baiano”, explica.
Mas não são só os hotéis e resorts que se tornam palco do sim de casais de fora da Bahia. A casa de praia de Christianne Gonzalez, por exemplo, costuma receber famílias que vêm para passar férias no estado e aproveitam para realizar eventos como noivados. É a proprietária que costuma fornecer o contato de fotógrafos, produtores, fornecedores de bebidas e alimentação para a festa.
O imóvel localizado em Guarajuba costuma receber famílias para temporadas maiores, geralmente mais de uma semana. E para realizar o evento, eles precisam seguir as regras da casa, como por exemplo, no máximo 25 convidados e a lista com os nomes entregue na portaria.
“É um modelo que já vimos muito em Portugal, as pessoas viajam para casar lá. No nosso caso, as pessoas vão mais para descansar e acabam comemorando de uma forma mais intimista, com quem realmente importa”, afirma.
Fonte: A Tarde