O ano ainda não terminou, mas já se sabe que 2020 baterá recorde no número de mortes no Brasil. Impulsionado pelos óbitos causados pela covid-19, até novembro foram emitidos 1.314.097 registros de óbitos, segundo dados dos cartórios disponibilizados pela Arpen Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).
Os dados informados incluem todos os tipos de mortes, de doenças a acidentes e assassinatos. Cada óbito, obrigatoriamente, gera um registro.
Mesmo faltando um mês para fechar a contabilidade do ano, o número de mortes computadas já supera o total de 2019, quando foram 1,25 milhão de registros no país —era o maior número contabilizado entre todos os anos até aqui.
O número de mortes até novembro deste ano ainda está sujeito a correção, já que os cartórios ainda podem incluir mais dados no sistema.
O mês com mais mortes este ano —e também recorde para óbitos em apenas um mês— foi julho, quando foram 138.943 óbitos foram registrados. O recorde até então em um único mês era de julho de 2018, quando foram 119.675 mortes.
A covid-19 é a principal causa de morte dos brasileiros este ano. Entre março e novembro foram 167 mil declarações de óbito da doença causada pelo novo coronavírus.
Dados diferem do registro feito pelo Ministério da Saúde
O número de mortes apontado pelos cartórios é um pouco menor que o do Ministério da Saúde, que até novembro computava 173 mil óbitos por covid-19. Isso pode ser explicado porque muitas das mortes relacionadas ao novo coronavírus só têm confirmação da doença dias após o falecimento e, consequentemente, após a emissão do registro de óbito.
O número de mortes por uma única doença em um ano, causado pela covid-19, é inédito no país. O grupo das doenças isquêmicas do coração tinha sido, até então, líder entre as macrocausas de morte, com 116 mil óbitos em 2019.
Para a epidemiologista e pesquisadora Ana Brito, que integra o quadro da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da UPE (Universidade de Pernambuco), o número elevado de mortes na comparação entre 2019 e 2020 só pode ser explicado pela pandemia.
“A covid-19 a única condição diferente para justificar esta sobrecarga de óbitos. É a única grande causa que não estava presente em 2019”, afirma. A especialista afirma ainda que os dados já fechados do primeiro semestre apontam para um aumento no número de mortes no país em torno de 10%.
Verão não deve trazer boas notícias, avalia virologista
Para o presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia), Fernando Rosado Spilki, a diferença de mortes que já se apresenta este ano já é uma mostra do potencial destrutivo da nova doença. “Essa alta além do normal dá uma dimensão do impacto da pandemia”, diz.
Ele diz que a previsão para o verão é pessimista. “Hoje a pandemia se acelera em 21 estados, e os números são na maioria mais altos do que aqueles do pico da primeira onda. Lamentavelmente a tendência para as próximas semanas ainda é de agravamento do quadro, e a depender da disponibilidade de vacinas e da estratégia adotada, ainda poderemos ter uma terceira onda no outono/inverno, repetindo o que se observa em países como Japão e Estados Unidos”, alega.
Segundo dados da Startup In Loco, o índice de isolamento social vem apresentando queda mês a mês no Brasil. Nesta quinta-feira (10), por exemplo, a taxa de pessoas que não se locomoveram ficou em 36,3%. Em uma mesma quinta-feira, dia 13 de abril, essa taxa era de 44,3%.
Covid pode ter causado mais mortes do que o registrado
O UOL também apresentou os dados ao epidemiologista e pós-doutor na Harvard School of Public Health, Antônio Silva Lima Neto. Ele afirma que os números finais de 2020 mostraram a tragédia da covid-19, mas vão contar apenas uma parte do que foi causado pelo novo coronavírus. “O tamanho do problema covid ainda não está muito bem esclarecido”, diz.
Ele explica que é quase um consenso entre pesquisadores que o número de mortes pela doença é bem maior que o total computado pelo Ministério da Saúde.
“Esse tema ‘excesso de mortes’ é muito debatido, porque a covid-19 responde em número bem maior que os 180 mil já registrados. Temos trabalhos que indicam que houve uma série de mortes que ficaram como ‘a esclarecer’, o que termina por obscurecer a magnitude do evento covid-19 em relação ao total de mortes. É um tema a ser melhor esclarecido”, pontua.
Mortes por ano
2016 – 1.010.399
2017 – 1.044.475
2018 – 1.189.834
2019 – 1.256.141
2020 – 1.314.097*
*Número até novembro e ainda sujeito a acréscimo.
Fonte: UOL